
No pico de cores da Primavera e na distinta data do Solstício de Verão de 2009, 3 fotógrafos portugueses, amigos e experientes em fotografia de Natureza e Paisagem, reúnem-se para ingresso ao coração da montanha da Serra da Estrela, com destino a uma das suas mais puras e místicas lagoas, pernoitando junto dela para fotografar a sua essência, nas reunidas condições de cor da Estação, ausência de vento, céu limpo e noite de duração mais curta no ano.
O alcance da Lagoa de Peixão fez-se através dos lagos de Chancas, nas proximidades da Torre. Em cerca de 1h30m, é necessário vencer um desnível de 200 metros, numa extensão de 1,5 km, descendo na proximidade da margem de uma linha-de-água, escarpada. Caminha-se por entre toda a biodiversidade que lhe é inerente, acompanhando sempre o recorte serrano de lajes escarpadas de enormes maciços de granito, por vezes densificando-se de vegetação de mata abundante em giesta e zimbro.
A lagoa é a maior de origem glaciar na serra e sendo de água nascente, a origem de água montante escoa para o majestoso Vale Glaciar da Candieira, que por sua vez é afluente ao caudal do Zêzere. Na harmonia do ecossistema lagunar, os aromas da primavera misturados com o som de aves e insectos que povoam o vale, a presença humana é tão ténue neste pedaço de Portugal, que as borboletas se deixam ficar, quase inertes nas plantas onde poisam. Elas deixam-se ser fotografadas. Ao entardecer, esta harmonia de natureza no seu estado mais puro atinge um clímax, típico da fronteira entre o dia e a noite. Aproxima-se o crepúsculo, onde a luz se revela de magia própria nestas altitudes, o Sol Poente rasa agora o horizonte, e a montanha, essa, recebe a graciosa luz quente – a última luz do dia, é tangente aos picos de montanha iluminando-a, os picos reflectem os tons intensos de amarelo a laranja, e de vermelho, até ao castanho. Um pequeno intervalo de luz mágica, um deleite para o fotógrafo que compõe com esta luz.
Voltaremos a ter esta luz, na próxima madrugada, desta vez, uma luz nascente do novo dia, quando os cumes montanhosos orientados a Este revelar-se-ão iluminados com as cores quentes. Mas até lá, há que atravessar a noite.
Chega a hora de montar tendas, de restabelecer energias, de sentir a envolvência do profundamente encaixado do Covão do lago à altitude de 1675 mt. Um espaço idílico, tão remoto mas revigorante. Afinal, reflectindo por momentos, não se trata apenas da viagem ao coração da Serra, e à sua origem de águas nascentes, glaciares; Esta pode bem ser uma viagem de espírito, face a tal magnitude fica-se a cismar e sim, há o medo. Por breve que seja a sensação, há mais que não seja o resquício do medo, esse que desperta o instinto da natureza humana, instinto que outrora nos valeu nos muito remotos tempos de caça, de sobrevivência. O Covão é esmagador e faz cismar.
Na noite profunda, os fotógrafos captam a luz das estrelas. Com um grito, os ecos da voz do Homem ouvem-se 3 vezes em covões mais distantes, qual som a atravessar montanhas com a latência do tempo.
Não há silêncio nocturno. Da fauna, distingue-se a presença dos morcegos e o incansável chilrear das rãs no seu habitat. Algumas horas passam, 2 garrafas de Branco e um maço de Ventil ajudam a ultrapassar e anima a presença, enquanto se compõem fotografias do céu estrelado, durante essas horas consecutivas. Depois, tenta-se dormir.
Chegada a madrugada, às 4:30h observa-se já o azul suave da aurora. Antes de abraçar a luz do Sol do Novo dia, há que caminhar, para atempadamente reconhecer a margem de jusante do Lago, local esse o escolhido para obter fotograficamente os melhores enquadramentos virados para a montanha que receberá a primeira luz do Sol. Montados os tripés, cada autor ao seu estilo, assim o espírito ajude composição, chega a hora de sentir a adrenalina. O Sol nasce. A crista da montanha recebe a luz, a magia volta a acontecer. Mas desta vez, a essência está a ser gravada. A Natureza é uma dádiva, por instantes, o cenário não se trata apenas de um local magnífico, a Serra da Estrela torna-se… Poesia.
3 Fotógrafos de natureza crêem ter realizado história, num estilo de fotografia inusual em Portugal, mas que com sonho e empenho, se espera modificar tal quadro.
Com a técnica, talento, alguns quilos de equipamento e muita motivação, os fotógrafos criaram imagens únicas de enorme beleza e trouxeram uma mensagem do coração da Serra da Estrela: A natureza do nosso país é rica na proporção da nossa alma. Há que descobrir o nosso país, assim como a nossa alma.